Há cerca de três anos, em setembro de 2020, a primeira locomotiva 100% elétrica começou a ser testada no Brasil. Movida a bateria, iniciou seu trajeto na fábrica em Sete Lagoas, transportando cargas de Minas Gerais com destino à Vitória, no Espírito Santo.
Desenvolvida pela Vale em parceria com a empresa norte-americana Caterpillar Progress Rail, a locomotiva tem a capacidade de operar por até 24 horas sem parar para recarregar.
Após 8 meses de testes, a primeira locomotiva 100% elétrica começou a ser utilizada, em agosto de 2021, como potência extra em trens de minério que fazem o trajeto Minas-Vitória.
Para falar sobre este assunto que vem ganhando destaque nos últimos anos, conversamos com a diretora de Relações com o Governo, Marketing e Comunicação da Wabtec, Marcia Gomes. Veja abaixo!
As vantagens e desvantagens das locomotivas elétricas em comparação com as locomotivas a diesel
Apesar de possuírem aplicações e características bastante distintas, é possível observar, em alguns casos, as locomotivas elétricas e a diesel atuando em conjunto em um mesmo trem.
Gomes destaca uma curiosidade comum entre as locomotivas elétricas e a diesel.
“Ambas possuem muitas similaridades relacionadas aos sistema de tração, pois nos dois casos são utilizados conversores e motores elétricos”, explica.
Ela acrescenta ainda que “o motor da locomotiva a diesel funciona com uma usina geradora de energia por meio de um alternador acoplado em seu eixo”.
Especificamente sobre as locomotivas elétricas, Marcia observa que elas possuem diferentes fontes de energia, sendo “no passado por alimentação externa via terceiro trilho ou sistema de catenárias”.
“Com o avanço da tecnologia de baterias hoje já é possível acomodar uma quantidade significativa de baterias numa locomotiva para utilizar como fonte de energia”, detalha nossa entrevistada.
A profissional enumera as vantagens do uso das locomotivas elétricas no Brasil: menores emissões, menor emissão de vibrações e ruído, menor custo de manutenção do material rodante e possibilidade de modelos com maiores potências numa só unidade.
Segundo Marcia Gomes, por outro lado, o modelo também apresenta desvantagens: maior custo de aquisição, menor flexibilidade (no caso das locomotivas a bateria em função da baixa autonomia) e custo de implementação e manutenção da infraestrutura de energia.
Como as locomotivas elétricas estão sendo usadas no Brasil?
As locomotivas elétricas ou trem unidade, de acordo com a entrevistada, são majoritariamente utilizados no transporte de passageiros.
“As ferrovias de transporte de cargas têm em sua frota predominantemente locomotivas a diesel. Existem algumas exceções, como, por exemplo, o trecho da serra do mar de Santos onde a MRS possui uma operação com locomotivas elétricas num sistema de cremalheira”, cita ela.
“Em função do desenvolvimento da química de baterias, hoje é possível equipar uma locomotiva de carga com uma capacidade de 8 a 10MWh de energia que pode ser utilizada em conjunto com locomotivas diesel”, complementa a especialista.
Outra questão importante mencionada pela entrevistada é o desenvolvimento sustentável do país.
Segundo Gomes, “as ferrovias brasileiras já estão avaliando todas as alternativas para tornar suas operações mais sustentáveis e menos poluentes, sejam elas relacionadas ao material rodante ou soluções de tecnologia”.
Os desafios para o uso de locomotivas elétricas no Brasil
O principal desafio para a utilização de locomotivas elétricas em trens de carga no Brasil, segundo a diretora de Relações com o Governo, Marketing e Comunicação da Wabtec, está relacionado ao alto custo de implementação do sistema.
“Uma alternativa para tal desafio é a utilização de locomotivas a bateria com sistemas de carregamento externo, entretanto as baterias também passam pela curva da viabilidade econômica”, analisa.
Os benefícios potenciais do uso de locomotivas elétricas no Brasil
De acordo com Marcia Gomes, o grande benefício do tem híbrido - arranjo de locomotivas a bateria operadas juntamente com equipamentos a diesel - é a possibilidade de recuperação da energia proveniente da frenagem dinâmica.
O perfil das ferrovias brasileiras, por sua vez, formadas por aclives e declives, beneficia a recuperação da energia por meio deste tipo de frenagem.
“Depois desta energia armazenada nas baterias, é possível desligar a locomotiva a diesel e tracionar com a locomotiva a bateria para movimentar o trem”, reflete ela.
“Em determinadas ferrovias é possível reduzir o consumo de combustível em cerca de 10%, contribuindo para a redução do custo operacional e menor emissão de gases de efeito estufa e ruídos em determinadas áreas”, acrescenta a convidada.
As perspectivas para o uso de locomotivas elétricas no Brasil
Falando sobre as perspectivas para o uso de locomotivas elétricas no Brasil, Marcia traz como exemplo os modelos da Wabtec que, nos últimos anos, “vem continuamente investindo em tecnologias que contribuem com a redução da emissão de gases de efeito estufa”.
“As locomotivas FLXdrive e sua aplicação progressiva em ferrovias brasileiras vão contribuir para o aumento da eficiência energética e descarbonização do setor ferroviário”, finaliza a convidada.
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