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Papo em Movimento – A logística do agro: diferencial competitivo

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Especialistas falam sobre o estágio da logística do setor, assim como seus desafios, o impacto da digitalização e a evolução tecnológica no agro. Confira!

Sou o Pedro Moreira, Presidente da Associação Brasileira de Logística. Sejam bem-vindos à mais uma edição do Papo em Movimento, que é uma da Informa Intermodal com a coordenação e apoio da ABRALOG.

Vamos abordar hoje a logística do agronegócio, o agro que representa próximo de 27% do PIB brasileiro, somos um dos maiores produtores de alimentos do mundo, com o potencial de ser o primeiro.

Mas, para que isso aconteça, a logística tem um papel fundamental no sentido de contribuir para a redução do desperdício, tempos de trânsito, custos logísticos e também melhora do serviço.

Isso significa um olhar atento para a nossa infraestrutura, os modais, a tecnologia tão importante para o setor, a sustentabilidade e o desenvolvimento das pessoas. Logística no agro: diferencial competitivo, esse é o tema do webinar de hoje, recebendo a presença de executivos que dominam com grande capacidade o agronegócio e sua logística.

Uma honra e alegria ter conosco João Paes de Almeida Supply Chain Director - Latin America na Cargill Animal Nutrition & Health Enterprise; Thiago Guilherme Péra Coordenador Técnico do Grupo ESALQ-LOG; e Daniel Furlan Amaral Economista Chefe na ABIOVE - Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais.

Antes de irmos para as questões de nosso webinar, eu pediria que cada um contasse um pouco de sua trajetória profissional.

Daniel Amaral: “Eu sou economista formado pela FEA-USP, tenho mestrado e doutorado em economia aplicada pelo ESALQ-USP, e já trabalho na entidade há quase 14 anos. 

Tenho mais de 20 anos de experiência como economista e analista, e acompanho o setor e os desafios da logística já há bastante tempo, desde questões institucionais até obras de infraestrutura bem importantes, vários avanços que o setor conseguiu alcançar nos últimos anos que foram bastante importantes. Então isso foi um pouco da minha experiência na área da logística.”

João Almeida: “Faço parte desse universo do agronegócio há algum tempo, desde os últimos 15 anos. Atualmente lidero supply chain na América Latina no nosso negócio de nutrição animal da Cargill, mas nesse histórico passei por algumas divisões, como a de alimentos e agrícola.

Falando um pouco sobre a Cargill dentro do mundo do agronegócio, somos uma empresa com mais de 150 anos, temos 155 mil funcionários distribuídos em 70 países que trabalham todo dia para alcançar nosso objetivo de nutrir o mundo de forma segura, responsável e sustentável.

Todo dia a gente conecta esses produtos e mercados, clientes, ingredientes, pessoas e animais, aos alimentos que precisam para prosperar. No Brasil estamos presentes desde 1965, operando em 17 estados e no DF, e temos escritórios que suportam nosso agronegócio e alimentos em quase 150 municípios.”

Thiago Péra: “Eu sou engenheiro agrônomo formado na ESALQ, fiz meu mestrado em engenharia de sistemas logísticos pela Escola Politécnica da USP, estou concluindo meu doutorado em economia aplicada, e aqui no ESALQ-LOG nós somos um grupo de pesquisa e extensão vinculado à USP que tem realizado uma série de projetos e iniciativas na área de logística industrial. 

Entre elas estão o sistema de informações de fretes, em que basicamente nós coletamos, analisamos e divulgamos indicadores de preço de frete que são praticados no agronegócio brasileiro, bem como uma série de outros projetos junto com iniciativas públicas e privadas, projetos nacionais e internacionais.”

Pedro Moreira: Como tem sido a experiência do agro nessa pandemia, a adaptação ao mundo digital e o desenvolvimento das logísticas, assim como os desafios enfrentados?

Daniel Amaral: “Desafios é o que não falta nesses tempos de pandemia. Muito está sendo aprendido em termos de controle, de prevenções e até mesmo de adaptação de funcionários e colaboradores. Temos pessoas que podem comentar, como o João que pode falar como a Cargill enfrentou isso no seu dia a dia, e certamente não foi nada fácil.

Então vou comentar um pouco do ponto de vista da entidade de classe, da ABIOVE, que teve alguns trabalhos importantes nesse aspecto. Nós tivemos um cuidado muito grande de mostrar a importância do setor de alimentos e mesmo durante uma pandemia como que deveria ser preservada toda a movimentação desses produtos. Estamos falando de um período muito difícil, mas alimento não pode faltar, é essencial e o mínimo para ter a base da sociedade, a oferta de alimentos garantida.

Então esse foi um trabalho desempenhado pela entidade, mostrando a importância do segmento para o Brasil, tanto do ponto de vista do abastecimento interno quanto do ponto de vista das exportações.

Então o setor que é responsável e assume seus compromissos frente a esses desafios, também se comprometeu com uma série de melhorias em quase 150 pactos de recebimento de cartões, onde foram feitas melhorias tanto do ponto de vista de banheiros, alimentação, oferecimento de máscaras, álcool em gel, distanciamento, e foram medidas aplicadas de maneira uniforme pelas empresas associadas para garantir que essa pessoa tão importante na logística nacional que é o caminhoneiro recebesse os tratamentos compatíveis com as mais rigorosas normas de higiene e segurança que a pandemia exige.

Então foi feito um trabalho bastante importante, que foi coordenado pela ABIOVE mas conduzido pelas empresas junto a seus terminais, seus pátios de caminhões. Também foram feitos protocolos para ajudar todos os colaboradores a entender os riscos da propagação da doença, evitá-los, ou seja, o setor representado pela ABIOVE, a produção de alimentos, soja, farelo, óleos vegetais, ele adotou uma série de protocolos muito importantes para que a pandemia não trouxesse riscos no abastecimento de alimentos.
 

Acho que isso foi muito importante, uma lição que todos conseguimos aprender, e agora certamente o Brasil pode ser estudado como caso de sucesso de um país que conseguiu atravessar a pandemia preservando o abastecimento de produtos essenciais. Acho que esse foi um passo muito importante que foi dado.”

João Almeida: “O Daniel acompanha muito bem o trabalho e coordenação que a gente faz junto à ABIOVE, e falou muito bem. O que posso adicionar foi que uma das coisas fundamentais foi a manutenção de dois dos nossos princípios dentro da Cargill, que é o foco nas pessoas em primeiro lugar e a segurança delas também em primeiro plano.

Quando a gente assumiu esses dois princípios a gente começou a viver muito no dia a dia a nossa missão de levar nosso objetivo de nutrir o mundo de forma segura, responsável e sustentável, e diariamente a gente era testado, mas sempre com esses dois pilares, defendendo o melhor para as pessoas e colocando a segurança em primeiro lugar.

E assim fomos capazes de tomar decisões às vezes centralizadas ou super descentralizadas, na ponta, no que estava acontecendo na execução, no ambiente logístico de maneira muito consistente. E acho que o resultado disso foi que aprendemos a navegar por esses problemas, aprendemos a navegar pela pandemia à medida que íamos aprendendo o que ela ia trazer.

Em paralelo, a colaboração com esses parceiros comerciais, sejam eles operadores logísticos, sejam transportadores, mas principalmente nossos clientes, também foi super importante. Então falamos do ambiente da cadeia de suprimentos, isso vai desde o planejamento junto aos clientes e fornecedores, e fomos muito testados para que conseguíssemos fazer isso da melhor maneira possível.

Então passado algum tempo desde o início dessa temporada, acho que o que fica é colocar as pessoas e a segurança em primeiro lugar. Colaborar com nossos fornecedores, principalmente com nossos clientes, foi o que tentamos colocar em prática diariamente e conseguimos mitigar muitos dos problemas que poderíamos ter tido à medida que colocamos isso em progressão de forma muito forte.”

Thiago Péra: “Quando a gente fala do agronegócio, e conforme o Pedro comentou é responsável por ¼ do PIB brasileiro, e quando a gente fala em logística, ela é normalmente a grande vilã do agronegócio. 

Porque nós somos bastante produtivos e competitivos dentro da porteira, aumentando a produção, a área de forma sustentável, produtividade, tendo uma boa gestão nos custos de produção, mas a gente perde um pouco de competitividade em decorrência da nossa logística, pelo fato do Brasil ser um país de dimensão continental, ter uma geografia de produção diversidade e com distância bastante elevada que utiliza o transporte rodoviário, e isso acaba encarecendo a logística.

E quando a gente fala de agronegócio, estamos falando daquele que talvez seja o maior cliente da logística do Brasil, porque nós movimentamos mais de um bilhão de toneladas de carga por ano, o que é um volume extremamente significativo. Nós temos uma distância média bastante elevada entre as regiões de origem e destino no país, e o sonho de um embarcador ou um cliente é poder digitar o CEP de destino e ter um frete igual a zero. 

E infelizmente o frete do agronegócio não é igual a zero, ele tem uma participação bastante significativa nos preços de comercialização, principalmente em commodities. Então a participação na soja, por exemplo, chega a 30 ou 40% dependendo da época do ano em algumas regiões, quando se fala no milho ele chega a dobrar, e em alguns insumos agrícolas o preço do frete é mais caro que o preço do produto.

E de uma forma geral o que temos visto na pandemia especificamente? Quando a pandemia chegou e tivemos o lockdown, de fato tivemos uma série de problemas, no início muitas regiões não conseguiam fazer o escoamento adequado de sua produção, muitos motoristas preocupados com a pandemia, não tinham interesse em movimentar carga, o preço do frete subiu bastante. 

Tivemos desabastecimento, algumas cidades fechando entrando de cargas, mas passadas uma ou duas semanas o setor voltou, se estabilizou, então a gente observa que a logística do segmento do agronegócio de alimentos em geral é bastante resiliente. Foi pouco impactado diretamente pela pandemia, de forma geral. E basicamente o que observamos, por outro lado. 

Que há uma série de consequências indiretas da pandemia, reflexo do cenário econômico, estamos vivenciando um novo ciclo de alta dos preços das commodities, também associado à alta do preço do combustível, então existe uma grande perspectiva de que a demanda por transporte aumente nos próximos anos em decorrência do aumento da produção, e consequentemente é bem provável um aumento no custo de transporte também.

Outro aspecto que chamou bastante atenção foi a digitalização das operações. Até mesmo nós como consumidores ampliamos o uso de aplicativos, de comércio eletrônico, e não foi diferente na logística. Tivemos intensificação de reuniões eletrônicas e contratações de plataformas digitais para o serviço de transporte.”

Pedro Moreira: João, gostaria que você comentasse também sobre o PNL 2035, que nos parece mais completo e abrangente que os planos anteriores. Qual sua percepção do setor sobre essa PNL?

João Almeida: “O que eu consigo dizer é que a logística no agronegócio é absolutamente chave. O que difere a capacidade de realizar o mais básico é como o desenvolvimento de tecnologia, novas soluções, o que se materializa para nossos clientes e fornecedores.

A Cargill acredita muito no Brasil. A gente está aqui há muitos anos, trazendo investimentos consecutivos, e no ambiente logístico não é diferente. Recentemente abrimos um centro de distribuição novo em Araguaína no Tocantins para transporte de nutrição animal, fizemos outros anúncios de aquisição de equipamentos, de ampliação da nossa malha logística, temos feito constantemente movimentos e reforçando nossa posição junto aos portos e terminais portuários.

Temos um grupo bem representativo de nossa equipe presente em quase todos os pontos de cruzamento de fronteira no Brasil em que damos suporte a eles, estando presentes para que nossos produtores consigam acessar o mercado internacional e que nossos parceiros e clientes do Brasil consigam também trafegar nesse ambiente.

Sobre o PNL, deixo para os colegas que sem dúvidas tem mais expertise disse, mas o que queria reforçar é que essa multimodalidade, a omnicanalidade, são todas tendências que já estamos falando e investindo há algum tempo. É absolutamente fundamental que a gente busque a eficiência e a produtividade de custeio e tempo para nossa cadeia, mas cada vez mais faremos isso focando e orientando em soluções para nossos clientes e parceiros.

Da mesma maneira que acho que a logística é um fator chave para o agronegócio, também a vejo como um fator chave sobre como a nossa experiência com nossos clientes e parceiros se dá.”

Daniel Amaral: “A ABIOVE participou da consulta pública do PNL, e tem que se elogiar um trabalho feito que procura dar uma orientação para a infraestrutura brasileira nos próximos anos, tendo essa visão de estado, que passa de governos.

Isso é muito importante, vimos projetos que são importantes para o Brasil já colocados lá. A ABIOVE na sua manifestação colocou dois pontos de contribuição a grosso modo. O primeiro é que essa expansão da malha ferroviária deveria continuar. Listamos alguns projetos importantes para que a conexão, especialmente da região Centro-Oeste com os terminais do Norte, seja completada. 

Isso para a gente é muito importante, porque é uma região que tem muito a crescer de maneira sustentável em áreas antropizadas, então sem impacto ambiental, portanto essa integração é fundamental. E é ideal que ela aconteça com modais mais eficientes do ponto de vista do custo, eficiência energética, emissões de gases de efeito estufa, etc. 

Tendo um outro aspecto do PNL que nós comentamos, ele não está especificamente relacionado a projetos e obras, mas são os marco legais que pontuamos e consideramos importantes que sejam devidamente considerados ao longo do processo. Estamos falando da BR do Mar, da BR dos Rios, de uma revisão do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas, enfim, marcos muito importantes que norteiam os investimentos.

Sempre que esses marcos são aperfeiçoados, reduzindo a burocracia, aumentando a capacidade de negociação direta entre embarcador e transportador, e usando os melhores meios disponíveis, isso traz eficiência e também redução de custo da logística, além de motivar o setor privado a fazer os investimentos na infraestrutura que são de responsabilidade dele.

Então foram essas duas linhas, mas consideramos que o PNL 2035 está muito bem elaborado e o Ministério da Infraestrutura está de parabéns.”

Pedro Moreira: Thiago, você gostaria de complementar sobre esse tema?

Thiago Péra: “Sim. O PNL está muito bom. Teve uma evolução em relação aos planos anteriores, e normalmente todo tomador de decisão na parte de infraestrutura sempre toma como referência os resultados do PNL para fazer comparativos a respeito dos investimentos, se vale a pena ou não adentrar naquela infraestrutura, enfim. E, no Brasil, basicamente nós temos dois grandes formatos de atuar: o primeiro é planejar a infraestrutura logística para desenvolver uma determinada região, a produção, a economia, ou o segundo é colocar a infraestrutura onde já tem a produção. 

E infelizmente tem predominado no país mais esse segundo modelo. Em que você já tem uma grande produção lá, então existe uma demanda reprimida muito forte de infraestrutura, então a gente precisa priorizar as regiões que têm essa demanda, então não é necessariamente um projeto vocacionado para desenvolver a economia regionalmente.

Mas é um trabalho muito bom, tem uma evolução em relação a planos anteriores, e o que me chama a atenção é que precisamos ter bons dados. Você pode ter o melhor modelo do mundo, mas se você não tem dados você não vai ter bons resultados. Então nessa linha acho que falta termos um mapeamento muito claro de quais são os gargalos de infraestrutura logística no país, quais são as limitações que nós temos das grandes infraestruturas no país, isso não está muito claro.

Acho que no próprio documento que foi gerado os dados não foram bem tratados, talvez serão tratados agora na consulta pública em que a sociedade pode fazer uma manifestação mais específica de alguns aspectos.

E um segundo aspecto que eu chamo atenção do estudo é o seguinte: o mercado de fretes. No estudo foi considerado a base de dados de notas eletrônicas de 2013, e por que não uma base de dados mais atualizada? Nós sabemos que o mercado de fretes é bastante dinâmico e está bastante relacionado com oferta e demanda, e essa tratativa precisa ser considerada na definição dos preços de frete.

Uma coisa é o frete do preço atual, e outra é daqui a 20 anos. então é outro mercado que está à mercê de outros fatores, e sabemos que pequenas variações de preço de frete que são considerados nesses projetos você pode tirar a competitividade de uma infraestrutura ou não, então calibrar esses dados é algo fundamental.

E tratar a análise como um corredor logístico, e não como uma infraestrutura isolada. A gente precisa otimizar aquele corredor, para que ele ganhe competitividade dependendo de sua disponibilidade, rodovia, ferrovia ou portos, e não somente de uma infraestrutura. Essa visão integrada é extremamente importante para otimizar investimentos.

Acho que também faltaram outra infraestruturas, como a ferrovia Ceilândia-Belém, a expansão hidroviária do etanol, o terminal de Alcântara no Maranhão, a expansão da Ferroeste, e conforme o Daniel comentou essa ausência da discussão do arcabouço legal regulatório, principalmente relacionada às hidrovias do país, no formato que se colocou como resultado, o Brasil não tem condições de chegar lá no que foi projetado, porque temos problemas bastante acentuados no curso das águas, então isso precisaria ser bem resolvida assim como os marcos regulatórios.

E por fim é importante deixar claro as premissas utilizadas em cada um dos cenários, para que tudo não seja uma verdade absoluta e o tomador de decisão conheça o que foi considerado nos cenários, sabendo as limitações dos resultados.”

Pedro Moreira: Falando um pouco de tecnologia, como está a evolução tecnológica no agro, João? 

João Almeida: “Resposta curta e direta é que está forte e está acelerando. Recentemente eu estive conversando com outro grupo sobre a digitalização do setor, e nessa conversa tínhamos alguns especialistas em digitalização, transformação de empresas, e o consenso geral é de que temos um universo extremamente empolgante para talentos digitais, talentos jovens que procuram fazer essa conciliação.

O Brasil é muito bom e tem muita tradição no agronegócio, e à medida que seguimos adiante esses talentos digitais recorrem às indústrias em que o Brasil tem uma participação importante. Esse ambiente de digitalização vem forte, ainda tem muito o que avançar, mas seguramente o avanço do acesso à conectividade no ambiente do campo já cada vez mais estabelecidas no ambiente urbano também se disponibilizarão.

A velocidade com que o agronegócio se moderniza é impressionante. Sem dúvida nenhuma que os produtores, cooperativas, fornecedores, clientes, é notável o avanço deles e o requerimento nesse espaço. Semanalmente a gente vê publicações das ambições dessas empresas como um ambiente cada vez mais digitalizado, produtivo, eficiente, e a Cargill segue cada vez mais conectada com a necessidade dos clientes.

O que eu tenho visto muito é que pro universo logístico é muito interessante ver como temos fechado gaps históricos com as tecnologias e disponibilizando para dentro desse ambiente com a velocidade em que a gente também vai se abrindo para um ecossistema cada vez mais específico de nicho das agtechs e das logtechs.

No ano passado, um dos nossos negócios de nutrição animal, ele ganhou como a empresa mais inovadora do agronegócio, então isso não é uma exclusividade do ambiente logístico, estamos falando de tecnologias e soluções comuns, e sem dúvidas a logística não fica atrás. 

E aí a gente vai desde tecnologias que já estão mais dominadas, como rastreio das cargas no campo, até tecnologias em que realmente conseguimos entregar uma solução e experiência aos nossos produtores lá no campo, e a gente leva e disponibiliza essa tecnologia e eles se conectam com os mercados internacionais.

Sem dúvida nenhuma a tecnologia e esses insights digitais para os nossos produtores parceiros, clientes, tem sido alvo de muito investimento e atenção na nossa liderança da companhia em todas as partes do mundo, e o Brasil não fica atrás, sem dúvidas será um celeiro de inovações tecnológicas no ambiente agro.”

Pedro Moreira: Daniel, você quer complementar falando um pouco sobre as perspectivas?

Daniel Amaral: “Eu acho que a situação do agro brasileiro é como o João colocou, a demanda por tecnologia é firme e acelerando. Porque não tem outra forma, o Brasil para se manter na liderança mundial de soja e crescer cada vez mais em outros produtos tem que ter competitividade.

E um país com as dimensões que o Brasil precisa ter eficiência, escala, então não há outra forma a não ser o uso intenso de tecnologias que propiciem isso. Então é muito bacana ver como as tecnologias estão sendo implementadas de forma intensa não somente na agricultura, mas na logística, de forma que situações que até pouco tempo atrás eram de distanciamento entre embarcador e transportador, hoje é cada vez menores.

Então estamos falando de aplicativos, de sistemas de rastreamento, de várias tecnologias que hoje fazem com que embarcadores e transportadores estejam mais próximos. E a gente vê nesse aspecto discussões que no passado faziam todo sentido, como criar documentos, que geraram dificuldades e burocracia, hoje não, os sistemas estão mostrando facilidades. 

Então a tecnologia está superando muitas legislações que estão se tornando até obsoletas. Eu falo isso dentro do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas, que tem várias coisas que se olharmos com cuidado não fazem mais sentido, porque já foram superadas por um agronegócio dinâmico e pela adoção intensa de tecnologias que trouxeram conforto e segurança para os dois lados.

O que eu vejo para o futuro é um agronegócio usando cada vez tecnologias, os transportadores também, de forma que o Brasil se mantenha nessa briga pela liderança mundial trazendo sempre qualidade, eficiência, redução de custo e gerando empregos. Isso traz também empregos de alta qualidade. 

Estamos vendo verdadeiros pólos de desenvolvimento e soluções tecnológicas geradas aqui dentro. Talvez em um primeiro momento importadas, mas rapidamente nossos engenheiros e programadores estão aprendendo. Então um setor dinâmico como é o agronegócio acaba gerando ciclos virtuosos para o desenvolvimento do país, então as perspectivas são muito boas.”

Pedro Moreira: Thiago, seus comentários finais por gentileza.

Thiago Péra: “Nós temos visto uma corrida tecnológica também das grandes empresas do setor de TI, como Microsoft, IBM, entre outras, para fomentar aplicações tecnológicas muitas vezes já utilizadas em outros segmentos para o agronegócio, em função do tamanho deste setor.

E a gente consegue observar bastante disso no setor acadêmico. E na área logística nós temos visto muitas empresas interessadas em desenvolver seu modelo de tomada de decisão, que inclusive se popularizou o termo do gêmeo digital, todos querem ter um gêmeo digital, observando o que acontece no mundo virtual para poder tomar as decisões no mundo real.

Tempos atrás nós tivemos a corrida tecnológica para as torres logísticas. Na minha opinião é o seguinte: eu gosto muito do uso de tecnologias, mas nós temos ainda alguns gargalos para serem vencidos, principalmente a questão da falta de dados.

Muitas empresas querem desenvolver o melhor modelo, mas não têm os dados básicos para usar aquele modelo. Então tem uma carência muito grande no agronegócio de dados que sejam confiáveis, então muitas vezes o tomador de decisão se frustra com o uso das tecnologias porque ele comprou um pacote mas não tem dado para alimentar aquele pacote, ou usa dados estimados que não gera resultados muito bons.

Eu particularmente acredito muito no uso das tecnologias principalmente para a logística dentro do campo. Então temos uma série de iniciativas como o uso de drones para a aplicação de defensivos agrícolas de forma com que o drone faça a aplicação diferenciada, conforme a demanda por área, tem uma série de aplicações interessantes dentro da porteira para o uso dessas tecnologias.

E o grande desafio o que é? É descomoditizar os dados. Traduzir os dados em informações úteis para a tomada de decisão envolvendo toda essa grande família de modelos e tecnologias. E o desafio maior por trás disso é como treinar pessoas. Temos uma grande carência no segmento de profissionais que ainda não tem essa qualificação, de analisar dados e utilizar essas tecnologias.

Então precisamos preencher essa tecnologia e a universidade tem papel fundamental nisso, junto com a sociedade, de oferecer treinamento, qualificar novos profissionais e alunos para atuarem com essas tecnologias.”

João Almeida: “Falando sobre isso, se você pai, mãe, tio, tia, aluno, tem essa mentalidade digital e se interessa pelo agronegócio, o que posso dizer é que a empresa em que eu trabalho é absolutamente ligada e tem um ambiente vibrante.

Sem dúvida vamos continuar investindo nisso, no Brasil, e sem dúvidas nosso futuro será cada vez mais digital.”

Thiago Péra: “Existe uma demanda muito diferenciada para esse tipo de profissional. Todo profissional de TI hoje está sendo bastante demandado, existe uma escassez no mercado de forma geral.”

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