A biomassa, resultante de material biológico de plantas e animais, tem se destacado como uma alternativa promissora de combustível, gerando energia elétrica, calor e energia química.
Em especial, o etanol combustível, produzido a partir de resíduos vegetais como beterraba, milho e cana-de-açúcar, vem ganhando espaço em diversos meios de transporte.
Buscando compreender mais sobre o tema, falamos com Daniel de Paula Urbim, mestre em Desenvolvimento Regional e coordenador do curso de Gestão Ambiental, do Senac EAD.
Veja a seguir as opiniões e as reflexões do especialista para superar os desafios logísticos desse cenário sustentável em crescimento.
O desenvolvimento de combustíveis de biomassa
Segundo Urbim, "pesquisas apontam que a produção de biodiesel deverá crescer mais de 15% em 2023, mostrando a necessidade de novos investimentos".
No entanto, ele ressalta que esse crescimento enfrenta obstáculos, como a "capacidade ociosa elevada das indústrias do setor".
Apesar das perspectivas positivas, Urbim comenta que "novos investimentos em produção tendem a demorar um pouco mais para sair do papel" devido à implementação do B15, prevista somente para 2026.
Contudo, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já registra diversos pedidos de autorização para ampliação da produção e construção de novas unidades, totalizando "678 milhões de litros adicionais", com "outros projetos já em andamento por empresas do ramo".
Para o especialista, é crucial entender que o biodiesel vai além de ser apenas "um combustível, como o fóssil", pois tem um "potencial para preservar o ambiente e a saúde das pessoas".
Com o B15 e futuros incentivos, Urbim acredita que "o desenvolvimento de combustíveis de biomassa se dará de forma positiva na indústria de produção, impulsionando o crescimento do setor".
Os desafios de transporte do bagaço de cana-de-açúcar para a produção de biocombustível
No que se refere aos desafios de transporte do bagaço de cana-de-açúcar para a produção de biocombustível, Urbim acredita que é fundamental investir em tecnologias e infraestrutura.
De acordo com o docente do Senac EAD, somente assim será possível evitar que o custo logístico se torne um obstáculo ao crescimento do setor.
“As políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento da Matriz Logística Brasileira buscam superar esses desafios por meio de parcerias público-privadas e o fortalecimento dos modais de transporte rodoviário, hidroviário e ferroviário”, destaca Urbim.
O especialista afirma ainda que grandes empresas globais de logística já estão movimentando investimentos estratégicos para oferecer soluções integradas, conectando diferentes regiões do país e interiorizando as operações.
Para ele, a aquisição de know-how e a criação de joint ventures no mercado de transporte de biodiesel impulsionam a eficiência logística, com foco na segurança e descarbonização do transporte.
Obstáculos logísticos para garantir um abastecimento sustentável e confiável de biomassa como combustível
Urbim acredita que os desafios logísticos para garantir um abastecimento sustentável de biomassa como combustível estão relacionados a duas variáveis:
"investimentos e normativas específicas e adequadas às especificidades e realidade deste setor de transporte”, observa.
Ele destaca ainda que as decisões de investimentos e a superação dos obstáculos logísticos estão diretamente ligadas ao crescimento do setor de biocombustíveis.
Com base nos dados obtidos a partir do Plano Decenal de Expansão de Energia 2031, desenvolvido pela Superintendência de Derivados de Petróleo e Biocombustíveis, o professor destaca que deve haver um crescimento na área.
"Projeta-se ao longo do decênio um aumento da demanda por combustíveis líquidos no mercado brasileiro, atendida principalmente pelo incremento nas importações”, relata nosso entrevistado.
Para atender a essa demanda, será necessário investir em infraestrutura, como portos e terminais, o que representa um investimento de cerca de US$ 800 milhões.
Esses investimentos "proporcionarão um aumento na capacidade dinâmica para a logística nacional de movimentação de combustíveis líquidos.", declara o especialista.
Multimodalidade como chave para o abastecimento de biomassa no Brasil
O professor também aponta a preponderância do transporte rodoviário em praticamente todos os grupos de cargas, apesar do crescimento expressivo do modal ferroviário.
Ele destaca a importância da cabotagem e do transporte hidroviário, especialmente para o setor de biocombustíveis.
"Um aumento da cabotagem de contêineres é resultado de estímulos a esse tipo de movimentação e políticas públicas que incentivam os biocombustíveis, com particular destaque para o etanol”, pontua.
Em meio a esses desafios, Urbim enfatiza a necessidade de cooperação e ação conjunta dos diversos atores envolvidos na cadeia de suprimentos de biomassa como combustível.
Para enfrentar tais obstáculos logísticos e garantir um abastecimento confiável e sustentável de biomassa, é fundamental promover investimentos adequados e a implementação de normativas específicas para o setor de transporte.
Se você gostou de saber mais sobre o assunto, veja também nosso artigo sobre “Alternativas de energia para o transporte: onde podemos chegar?”.