Com uma preocupação crescente com as mudanças climáticas e a necessidade de reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa, as ferrovias surgem como uma solução promissora para minimizar o impacto ambiental do transporte de mercadorias.
Diferentemente dos caminhões, as ferrovias modernas utilizam locomotivas movidas a eletricidade ou energia renovável, o que resulta em emissões significativamente menores de gases poluentes.
Além disso, o transporte ferroviário é capaz de levar grandes volumes de carga de uma só vez, o que reduz a necessidade de múltiplas viagens e, consequentemente, o consumo desenfreado de combustíveis fósseis.
Para falar sobre o assunto, conversamos com Beto Marcelino, engenheiro agrônomo e diretor de Relações Governamentais da ICITIES, associada à AHK-Paraná. Acompanhe para saber mais!
Como as ferrovias contribuem para a redução das emissões de carbono no transporte de cargas?
Beto Marcelino ressalta que, dentro de uma visão ligada às cidades inteligentes, as ferrovias acabam tendo muitas vantagens em relação ao transporte, principalmente para grandes quantidades de produtos e longas distâncias.
“Esta modalidade de transporte promove, além do desenvolvimento da economia local, a transição de uma economia de baixo carbono atrelado a uma economia sólida e eficaz, buscando minimizar os impactos ambientais”, destaca.
De acordo com o entrevistado, estudos mostram que o transporte ferroviário é seis vezes mais eficaz em comparação ao rodoviário, mesmo utilizando combustíveis fósseis (diesel).
“É claro que vai ficar mais barato e vai poluir seis vezes menos, é brutal a diferença. E se fosse para apoiar a abertura de uma nova rodovia, a gente faria uma nova ferrovia”, compara.
“E apesar de não terem a mesma capilaridade que o modal ferroviário tem, acho que a ferrovia promove o transporte mais barato, de fato, para grandes volumes de carga, comparado ao que tem de caminhões rodando numa rodovia, levando por uma transportadora o mesmo peso em carga”, acrescenta.
Beto Marcelino também traz para a pauta a facilitação dos terminais privados, algo que, na opinião dele, pode ampliar a competitividade do mercado ferroviário.
“Existe a possibilidade de ter terminais privados e aí são os empresários investindo nisso e poderia ter um centro logístico mais competitivo”, opina.
Sobre os principais impactos positivos das ferrovias, Marcelino destaca o trânsito livre e, na grande maioria das vezes, distante das catástrofes naturais que impactam as rodovias.
“As rodovias vivem tendo problemas de desmoronamento de encostas e acidentes. Os trens de carga e de pessoas têm uma vantagem gigante de ter trilhos em locais com menos problemas, mais planos e, em geral, com menos incidência de problemas naturais e menos impactos”, lembra.
Ainda sobre o assunto, o convidado faz um alerta importante acerca de uma discussão ligada à indústria de fretes e ao mercado do transporte rodoviário de cargas enormes.
“A gente tem um ecossistema rodoviário muito forte que freia muito um duplo investimento. Um cara que tem uma transportadora, com 200 caminhões, deveria ir migrando aos poucos para o transporte ferroviário, então teria que investir e ter incentivo de política pública para isso”, exemplifica.
Os principais desafios para promover uma maior participação das ferrovias no transporte de cargas e promover a descarbonização
O engenheiro agrônomo Beto Marcelino cita como exemplo a Ferroeste, ferrovia que liga vários terminais que vêm do Mato Grosso com cargas de grãos e está sendo complementada dentro do estado do Paraná com o objetivo de oferecer uma malha integrada ao porto de Paranaguá.
“Estão sendo feitos investimentos públicos e privados para poder transportar grãos em alta quantidade dos lugares de maior produção que são Mato Grosso e Goiás”, conta o entrevistado.
“Só que esses terminais também servem para você adaptar a bitola que é o tamanho de onde corre dentro dos trilhos, as rodas dos trens. Então, aí também tem esse grande desafio”, completa.
Outro assunto levado em consideração, conforme Beto Marcelino, é o número de acidentes quando as ferrovias cortam as cidades.
“Tem que se ampliar o estudo de tecnologia para que esses trens não ocasionem acidentes, como já acontece com ônibus e carros”, opina.
Como você enxerga o futuro das ferrovias como meio de descarbonização do transporte de cargas? Principais tendências ou avanços em andamento
Sobre o futuro das ferrovias como meio eficiente de descarbonização do transporte de cargas, Marcelino cita a experiência de Bibop Gresta, ex-CEO da Hyperloop Transportation Technologies, na Itália.
O entrevistado explica que a empresa transporta carga, “em princípio, por tubos, à vácuo, no qual tem velocidade de mais de mil quilômetros por hora”.
“Seria a revolução do transporte ferroviário de cargas. Prometeria uma eficiência de baixo risco ambiental e emissão zero de carbono, com motores eletromagnéticos, com a função de ter a energia fotovoltaica nesses tubos”, destaca.
Logo, na opinião de Marcelino, a Hyperloop é um bom exemplo do futuro a ser moldado.
“Eles têm uma base em Toulouse, na França, com pessoas ligadas à Airbus. É um lugar de testes, no qual a Hyperloop ainda tem uma parte desse tubo montado para testar como as cargas se adaptam a essa velocidade enorme do transporte futurístico”, conta.
Outro desafio da descarbonização do transporte de cargas são os motores a diesel, bastante comuns nos trens brasileiros.
“A gente foi recentemente da cidade do Porto a Lisboa em um trem que era de motor híbrido, que em um trecho fora das cidades opera com um motor e dentro das cidades opera com outro motor”, conta o entrevistado.
“Motores híbridos são muito mais eficientes, muito mais econômicos e muito menos poluentes”, completa.
Entretanto, para que os motores híbridos sejam realidade no Brasil, é preciso, segundo o entrevistado, a união dos esforços em padronizar as bitolas entre os estados.
“Então a gente teria que ter uma política pública para tentar padronizar as bitolas e a gente poder fazer não só um país que transporta por ferrovias, mas cargas e pessoas em nível turístico”, finaliza.
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