Assim como diversos setores logísticos, o segmento portuário também tem buscado ações para tornar-se mais sustentável e reduzir suas emissões de carbono. Segundo um estudo da União Europeia, os portos representam cerca de 11% do total das emissões de CO2 daquele continente.
O tema foi um dos conteúdos debatidos na Intermodal 2023. Com o título “Desafios da Infraestrutura portuária e da logística verde”, João Paulo Braz, diretor de Terminais e Logística do Porto do Açu, e Cristiano dos Anjos, diretor comercial do Porto do Açu, falaram sobre o papel do porto fluminense nessas mudanças.
Veja abaixo os principais aspectos apresentados pelos especialistas no evento!
O atual papel do Porto do Açu no transporte marítimo brasileiro
Braz começou a apresentação contextualizando um pouco sobre a atuação do Porto do Açu, observando que houve um aumento na movimentação dos portos do Sudeste, com previsão de crescimento ainda maior para os anos seguintes.
“Atualmente já temos um problema sério de infraestrutura portuária na região. Em termos de tempo de fila para você atracar seu navio, que é um dos principais componentes do custo Brasil, nós temos um desafio claro”, refletiu ele.
Braz prosseguiu: “Olhando para 2022, mais de mil navios enfrentaram mais de dez dias de fila na região. E isso cai automaticamente no preço do produto que está sendo vendido e exportado.”
Segundo ele, a ideia do Porto do Açu, que tem menos de dez anos de funcionamento e segue se desenvolvendo, é uma maneira de ajudar a melhorar essa situação na região que reúne parte importante da produção industrial nacional.
“Temos dez terminais privados operando dentro do Porto de Açu, e cada um deles independente, e temos cerca de 45 km de área disponível para crescimento. Nós temos no porto dois canais de acesso, o que o tornam muito competitivo”, destacou.
Integração multimodal e expectativas de crescimento no Açu
Ainda de acordo com Braz, atualmente o Porto do Açu é responsável pela movimentação de 30% de todo o petróleo brasileiro que é exportado. Ele comentou ainda que o porto também tem um cluster dedicado à movimentação de óleo e gás.
Segundo Braz, há a expectativa de que tais números cresçam devido ao investimento feito junto ao governo estadual para otimizar as rodovias que levam ao porto, entre outras obras de infraestrutura que ligam a região junto ao Açu.
Ele também ressalta que a ferrovia será vital nesse processo, com um projeto que prevê a construção de um trecho de 41 km, com investimento já autorizado de 610 milhões de reais a ser realizado pela Vale.
Braz aproveitou a palestra para anunciar em primeira mão um novo portfólio de cargas do Porto de Açu, que é o transporte via cabotagem de 70 mil toneladas de sal grosso a granel da Refinaria Nacional de Sal, responsável pelo Sal Cisne.
Ainda segundo o especialista, o planejamento do porto é de chegar em 2036 com movimentação superior a 5 milhões de toneladas de carga ante os 1,5 milhões transportados hoje.
As ações do porto rumo à sustentabilidade logística
Na sequência, Cristiano dos Anjos, diretor comercial do Porto do Açu, falou sobre as ações logísticas do porto em direção à sustentabilidade. Ele reforçou a importância da transição energética na indústria como uma chave para essa mudança.
“A indústria do aço, que é hoje a principal entre as que mais emite carbono, também está entre as que mais desenvolvem projetos para atingir as metas de 2030 e 2050, quando a indústria pretende zerar essas emissões”, ponderou.
Ele acrescentou: “Esse trabalho de pensar esta nova indústria, com tecnologia mas também muito mais verde, é o que faz o Açu ser um ponto de referência.”
Anjos observou que a logística, por trabalhar com diferentes modais de transporte, também tem grande responsabilidade na emissão de carbonos. Segundo o palestrante, as energias renováveis podem ser o diferencial neste aspecto.
“Nós entendemos que viveremos primeiro com a energia de hoje e do amanhã, e o Açu tem essa capacidade de contribuir com a cadeia do petróleo e do gás, mas também estudamos e evoluímos projetos para outras energias, como biogás, biomassa, energia solar e eólica offshore”, explicou.
Anjos continuou: “Nós entendemos que todas essas energias vão fazer parte do futuro, e teremos que pensar em cada uma delas. E o segundo ponto é: como fazer essa transição, e como essa energia será consumida para melhorar a eficiência da logística?”.
Energias renováveis como chave para a logística verde no porto
Seguindo com sua fala, Anjos observou que, mais do que pensar no hidrogênio verde sendo exportado, é possível utilizá-lo, por exemplo, para a fabricação de aço verde. Ele diz acreditar que isso levará alguns anos para que isso seja estabelecido, mas que essa transição já está em curso. O especialista explicou:
“É o complexo industrial somado com a logística e somado com menor emissão de carbono. No Açu nós temos um dos hotspots de produção de energia eólica offshore, são como se fossem duas Itaipus inteiras para gerar energia pelo vento.”
Anjos também apontou como vantagem o fato da região Sudeste ser a principal consumidora de energia no país, o que permitirá com que as energias renováveis ali produzidas tenham menor custo de transporte, o que potencializará toda a cadeia produtiva de forma sustentável.
“Se a energia for gerada aqui, já haverá essa conexão com o grid direto por meio do Açu. Eu não precisarei ter taxas de transporte de uma região para outra, pois tudo está pronto aqui, além de todo o complexo industrial disponível”, resumiu.
Concluindo, Anjos disse entender que tais mudanças ocorrerão em uma velocidade rápida, pois, além dos estudos, os projetos já estão em curso. Ele relembrou o fato do Porto do Açu ter participado da COP-27 para falar dessas novas ações energéticas no setor portuário como reconhecimento dessas ações.
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