O segundo dia do Congresso Intermodal 2023 teve entre seus destaques o painel “Encontro Brasil França: Compartilhando as tendências e práticas no setor da logística”, que contou com mediação de Pedro Moreira, presidente da ABRALOG, Associação Brasileira de Logística.
Realizado nesta quarta-feira, dia 1º de março, o encontro contou com a participação da delegação da AFILOG, Associação de Logística Francesa, assim como de especialistas do setor logístico brasileiro. São eles:
- Claude Samson, presidente da AFILOG;
- Diana Diziain, diretora-executiva da AFILOG;
- Thomas Steinmüller, diretor da AFILOG;
- Ricardo Antoneli, SVP da GLP Brasil;
- Erica K. Couto, vice-presidente da DHL Supply Chain;
- Hugo Yoshizaki, professor associado da Universidade de São Paulo (USP).
Siga conosco e veja mais do que os convidados falaram no evento!
Cooperação entre a ABRALOG e a AFILOG
Iniciando o painel, Pedro Moreira destacou que a parceria entre as entidades do Brasil e da França se intensificou durante a pandemia, incluindo um acordo de cooperação entre as associações.
“A França é reconhecidamente um país com largo conhecimento e know how em logística, não só em transporte e estrutura, mas também de organizações, e eles estão nos brindando neste ano com sua delegação visitando a Intermodal e participando deste e de outro painel”, disse ele.
Diretora-executiva da AFILOG, Diana Diziain observou que a associação tem como objetivo “otimizar a dinâmica e a política pública do transporte e da utilização em geral das atividades econômicas logísticas”
Diana explicou que a AFILOG não atua apenas na França, mas em outras nações da Europa, com o objetivo de otimizar o transporte e logística como um todo. As visões da diretora foram complementadas pelo presidente da entidade.
“A logística não é tratada somente em nível nacional, mas nos territórios, terrenos, com as municipalidades, e uma de nossas prioridades é sermos ouvidos pelas administrações locais para podermos avançar na logística”, refletiu Claude Samson.
Desafios das operações logísticas na França
Falando sobre especificidades das operações do setor logístico na França, Diana destacou que as empresas do segmento têm enfrentado dificuldades para a instalação de entrepostos logísticos.
Segundo ela, existe uma falta de interesse do poder público em oferecer mais espaços para as construções, assim como um receio de parte da população pelos impactos que tal instalação pode causar em suas regiões.
“Temos o sentimento que o entreposto produz o fluxo, mas, ao contrário, ele otimiza tais fluxos. Por todos esses motivos, e por alguns outros que não temos tempo de desenvolver agora, a operação na França está cada vez mais difícil”, diz ela.
Prosseguindo, Thomas Steinmüller comentou que na França os operadores logísticos levam vários anos para conseguir autorização de operação, enquanto na Alemanha leva um ano e na Polônia alguns meses.
A comparação com o cenário logístico do Brasil
Falando pelo lado da questão logística no Brasil, Erika Couto, da DHL, comentou que tem visto um momento único para o segmento diante das circunstâncias enfrentadas nos últimos anos.
“Por um lado temos toda a instabilidade do momento sócio-econômico e geopolítico que está gerando uma mudança na cadeia logística geral, e por outro temos os desafios em busca de inovação, diversidade, sustentabilidade”, alaisou ela.
Erika complementou: “Entre essas duas vertentes, é um momento único para a logística, que vem ganhando um protagonista que não víamos há muitos anos.”
Ainda segundo ela, as empresas estão se movendo para operações estratégicas, aproveitando um momento de expansão e colaboração no setor.
De forma semelhante, o professor Hugo Yoshizaki reiterou que algumas das questões enfrentadas na França hoje podem servir como prognóstico do que pode ocorrer também no Brasil.
“Essa preocupação do impacto do uso do solo sobre os aspectos de logística que a AFILOG trouxe, e que tem a população francesa muito mais crítica do que a brasileira atualmente, é de certa forma um oráculo do que pode acontecer por aqui no futuro”, analisou o docente da USP
Hugo diz que toda central logística é um ponto gerador de tráfego, e que em locais como São Paulo existem legislações específicas sobre tais espaços. Ele contextualiza com um exemplo prático da cidade de São Paulo:
“Uma questão que temos aqui é o que vamos fazer com o CEAGESP. Se ele sair da cidade, terá um alívio na região da Vila Leopoldina, mas em compensação todo o fluxo de caminhões que abastecem os bares e restaurantes, de onde virão?”.
Ele continua: “Se o CEAGESP for para fora da cidade, a via que der suporte para ele terá um impacto de tráfego muito grande com certeza.”
Semelhanças burocráticas e como superá-las em ambos países
Para Ricardo Antoneli, outros obstáculos enfrentados pela França também são comuns no Brasil, em especial a questão burocrática para que novas infraestruturas logísticas sejam autorizadas a operar em cada país.
“Se voltarmos para a questão do real estate, é uma constante mundial que as agências reguladoras e ambientais sejam mais restritivas. Construir um galpão logístico pode ser rápido na construção vertical, mas o licenciamento pode levar quatro a cinco anos”, reflete.
Ainda segundo o SVP da GLP Brasil, as mudanças provocadas pela pandemia aceleraram o segmento, mas também trouxeram desafios que antes não existiam. Ele detalha:
“Se a pandemia por um lado acelerou o e-commerce, por outro ela assombrou as cadeias de suprimento. Nossos custos de produção subiram de 40% a 45%. Soma-se a isso a escassez de terreno, o tempo para garantir as licenças, isso se reflete em preço, o que afeta os negócios e por fim os consumidores finais.”
Imprevisibilidade para os próximos anos é desafio comum
Outro ponto abordado por Antoneli foi a imprevisibilidade de como o setor logístico irá reagir às mudanças dos próximos anos, mas destacou que existe otimismo para o Brasil.
Claude Samson, por sua vez, comentou que a Europa tem vivido um momento único com a covid, a guerra da Ucrânia e uma nova crise econômica, o que gera certa incerteza para estes anos futuros.
Para Diana Diziain, pesa ainda a questão da inflação na França, o que é uma novidade para o país, que teve estabilidade neste sentido por décadas. Ela também fala sobre o aumento dos preços dos materiais de construção e sua disponibilidade.
Erika Couto comentou sobre as recentes mudanças que alteraram a dinâmica e os investimentos na logística. Ela explicou que a DHL está construindo um novo campus na Rodovia Anhanguera, que será o primeiro da empresa do Brasil.
“Será um campo de duas naves, aproximadamente 137 mil m2. Estamos investindo para atender a demanda do mercado, atuando também em regiões como no sul de Minas, Espírito Santo, Santa Catarina, etc”, revelou ela.
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