Folha de S. Paulo – Trens ligando a capital ao interior e ao litoral, VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) com conexão ao aeroporto de Viracopos e expansão do metrô. As promessas do Governo de São Paulo para ampliar a malha ferroviária do estado incluem a construção de quase 1.040 quilômetros de novos trilhos, conforme dados da SPI (Secretaria de Parcerias em Investimentos).
O número já considera anúncios recentes da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), como a implementação dos TICs (trens intercidades) que vão sair da capital paulista com destino a São José dos Campos e a Santos.
As duas ferrovias recém-divulgadas pelo governador foram qualificadas no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI-SP), por meio do qual os projetos serão leiloados à iniciativa privada na forma de concessões comuns ou PPP (parcerias público-privadas).
Os novos projetos de trens intercidades ainda terão de passar por uma série de etapas, incluindo estudo de viabilidade econômica e audiência pública, para que o governo estadual publique, então, o edital e realize o leilão.
O trem para a Baixada Santista ainda não tem previsão para leilão. A rota possui traçados alternativos que podem variar entre 80 e 130 km de extensão e serão avaliados durante os estudos de viabilidade. A expectativa é que 1,8 milhão de pessoas de nove municípios sejam beneficiadas pelo projeto.
Em um dos potenciais trajetos, o trem passaria pelo sistema cremalheira, trecho que utiliza engrenagem conectada a um trilho dentado e faz a ligação entre a região metropolitana e a Baixada Santista.
No caso do trem com destino a São José dos Campos, as rotas alternativas, que também serão analisadas durante os estudos de viabilidade, se conectam às linhas 11, 12 e 13 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Segundo a SPI, o TIC vai se adequar ao projeto de expansão dessas linhas de trens urbanos.
As novas promessas de trens intercidades se somam aos projetos que ligarão a capital a Sorocaba e a Campinas (TIC Eixo Norte).
No caso do TIC Eixo Oeste, com destino a Sorocaba, a previsão é que o leilão aconteça no fim de 2025, com assinatura do contrato no ano seguinte. O investimento previsto é de R$ 10 bilhões. O governo estima que a linha atenderá 50 mil passageiros por dia em um trajeto a ser percorrido em uma hora –de ônibus, o percurso leva 130 minutos, de acordo com a SPI.
O leilão da rota para Campinas foi vencido pela C2 Mobilidade Sobre Trilhos, que foi a única a apresentar proposta. O consórcio é formado pela Comporte, holding brasileira ligada à família Constantino, fundadora da Gol, em parceria com a CRRC, estatal chinesa que é a maior fabricante de suprimentos ferroviários do mundo.
A concessão tem duração de 30 anos e segue o modelo de PPP (parceria público-privada).
O projeto prevê um trem de média velocidade para realizar o serviço expresso entre o terminal da Barra Funda, na cidade de São Paulo, Jundiaí e Campinas, por uma tarifa média de R$ 50 e tempo de viagem de 64 minutos.
Haverá também um serviço parador, chamado de TIM (Trem Intermunicipal), entre Jundiaí e Campinas, com paradas em Louveira, Vinhedo e Valinhos. O preço previsto é de R$ 14,05, com o tempo de viagem de 33 minutos.
Para Claudio Frischtak, fundador da Inter.B Consultoria, uma parceria público-privada dessa natureza –estruturante e de transporte de média ou alta velocidade– exige um espaço fiscal que permita bancar o projeto. Não é um problema para São Paulo, diz.
“Isso tem sido um impeditivo para alguns estados. São Paulo é possivelmente um dos poucos estados na região que conseguiria sustentar. No Rio de Janeiro, por exemplo, temos uma crise enorme no sistema de trens nesse momento e parte disso é porque o estado não consegue sustentar suas contrapartidas”, afirma.
O projeto do trem intercidades para Campinas é criticado pelo Idec (Instituto de Defesa de Consumidores). Na visão de Rafael Calabria, coordenador do programa de mobilidade urbana da entidade, o modelo do trem e a tarifa são alguns dos obstáculos para atratividade da linha.
Ele afirma que, enquanto China, Estados Unidos e União Europeia olham para as ferrovias como forma de desestimular o uso do avião no futuro e baixar as emissões de carbono, o projeto em São Paulo nasce tímido e deve competir com os ônibus.
“O trem até Campinas está mais caro do que o ônibus e vai levar quase o mesmo tempo [para chegar ao destino]. É claro que [o trem] vai atrair passageiros no começo por causa da novidade e porque, com o ônibus, tem trânsito, mas poderia ser muito mais”, diz.
As novas linhas de trem intercidades anunciadas no fim de maio pelo governador fazem parte do programa SP Nos Trilhos, que é voltado, principalmente, para o transporte ferroviário entre a capital e outros municípios do estado. Ao todo, são mais de 40 projetos em fase de estudo ou em execução. O decreto instituindo o programa foi publicado no Diário Oficial do estado em junho.
Dos quase 1.040 km de trilhos que o governo planeja implementar, 890 quilômetros já estão qualificados no Programa de Parcerias de Investimentos. Pouco mais de 74 quilômetros são projetos em fase de estudo e outros 74,5 quilômetros são obras que já estão em execução.
Estão qualificados no PPI até o momento os trens intercidades, as linhas de trens urbanos 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira, 13-Jade e a futura 14-Ônix e as linhas de metrô 19-Celeste e 20-Rosa (ainda não foram construídas), além das duas linhas de VLT recém-anunciadas pela gestão Tarcísio, em Sorocaba e em Campinas, que estarão conectadas aos trens intercidades.
Segundo a SPI, o novo programa do Governo de São Paulo inclui estudos de trens intercidades São José dos Campos-Taubaté, Sorocaba-Campinas-Ribeirão Preto e Campinas-Araraquara, além de projetos de ampliação da linha 2-Verde e construção das linhas 16-Violeta e 22-Marrom do metrô.
A iniciativa também abrange estudos da CPTM para novas estações, terminais e extensões e os trechos dois e três do VLT da Baixada Santista.
A gestão de Tarcísio de Freitas prevê, por meio do programa, investimentos em linhas já concessionadas, caso da 4-Amarela, da 5-Lilás e da 6-Laranja (em construção).